O termo ergonomia tem como origem as palavras gregas “ergon”, que significa trabalho e “nomos”, que quer dizer estudo.
Com o objectivo de eliminar e/minimizar os impactos adversos na saúde e bem-estar dos trabalhadores bem como a eficácia das tarefas a executar, os ergonomistas têm vindo a estudar a relação e interacção entre Homem – equipamento, tendo como ponto central o Homem.
Os resultados dos diversos estudos desenvolvidos ao longo dos recentes anos, têm permitido aos fabricantes de máquinas, ferramentas, equipamentos e mobiliário, dados valiosos para que, na fase de concepção, sejam introduzidos estes princípios por forma a eliminar esforços físicos inúteis ou exagerados, contribuir para uma melhor percepção das actividades e minimizar ao máximo as dificuldades na manipulação dos mesmos. São exemplos práticos, na vertente deste artigo, o caso das cadeiras e secretárias de escritórios bem como teclados ratos e visores.
No contexto do presente artigo, tendo em vista orientar actuações na concepção na fase de projecto ou possíveis adaptações dos locais ou postos de trabalho de modo a obter uma melhoria dos níveis de prevenção e de protecção dos trabalhadores no que concerne aos riscos profissionais e protecção da protecção da saúde, o legislador fixou prescrições mínimas de segurança e saúde a ter em conta através das seguintes peças legislativas: para os Estabelecimentos Comerciais, de Escritório e Serviços, Decreto Lei 243/86, de 20 de Agosto, postos de trabalho equipados com Equipamentos Dotados de Visor, o Decreto Lei nº. 349/93, de 1 de Outubro e Portaria nº. 989/93, de 6 de Outubro.
A questão preponderante que se coloca, para além de terem sido feitos esforços pelos fabricantes de equipamentos e as exigências do legislador quanto às prescrições mínimas de segurança e saúde nos postos e locais de trabalho, é a atitude que se deve fomentar perante estas questões particularmente no desenvolvimento de medidas de prevenção. Estas passam fundamentalmente pela divulgação, formação e consequente sensibilização das pessoas para que estas alterem as suas posturas e comportamentos, fomentando assim uma apetência para uma cultura de auto análise “postural”.
A implementação de medidas que visem melhorar as condições dos postos de trabalho terão, forçosamente, um sucesso limitado se não forem tidos em consideração programas de sensibilização para este tema.
Pretende-se assim com o presente trabalho sensibilizar o leitor para esta questão afim de contribuir para uma melhoria do nível de prevenção dos riscos profissionais no seu local de trabalho.
Abordagem
Tendo em vista uma auto análise da sua situação no que concerne ao seu posto de trabalho administrativo, solicitava-lhe que equacionasse as seguintes perguntas:
- Durante o trabalho já sentiu dores de cabeça?
- Quantas interrupções faz durante o dia de trabalho? E pausas para exercícios de alongamento e de relaxe?
- Como procede quando sente tensão no seu pescoço?
- A sua cadeira tem a possibilidade de se reclinar para trás?
- Tem reflexos no seu visor?
Estudos feitos têm demonstrado que cerca de 50% a 90% de utilizadores de computadores apresentam algumas das seguintes queixas:
- Perturbações oculares tais como fadiga visual, dores nos olhos, desenvolvimento de miopia temporal, olhos secos e irritados, dores de cabeça e visão enublada;
- Patologias do sistema músculo-esquelético nomeadamente, fadiga, dores de cabeça, tendinites, tensão no pescoço, tenossinovite punho/mão e síndrome do canal cárpico.
As causas destas perturbações são diversas mas os factores de ordem psicossocial, ergonómica e de natureza organizacional estão sempre presentes.
Estas questões prendem-se com problemas de relacionamento interpessoal, ambiente de trabalho tenso, pressão excessiva para os objectivos, horas extraordinárias, ritmo de trabalho, ausência de pausas, posturas rígidas nos postos de trabalho, movimentos ou actividades altamente repetitivos, cadeiras impróprias, posição/postura incorrecta (estática), longas horas contínuas de utilização de visores e posturas incorrectas dos membros superiores.
O método recomendado passa pelo desenvolvimento de controlos técnicos para identificação e avaliação dos riscos presentes mas, no contexto do presente artigo e de uma forma resumida serão referidas algumas das medidas que visam minimizar os riscos ergonómicos que passam pela adequação de mobiliário, equipamentos, conhecimento do seu corpo (posturas) e dispositivos de trabalho.
Posto de Trabalho
A informação aqui referida é um guia de carácter geral pelo que cada pessoa necessitará de adaptar o seu posto de trabalho nos moldes que melhor contribui para o seu bem-estar e saúde.
Cadeira
No âmbito da Antropometria, a cadeia para escritórios são concebidas e fabricadas para 90% da população o que quer dizer que pessoas com menos do que 1,5 metros ou mais do que 1,9 metros de altura poderão ser confrontados com problemas pelo que, necessitarão de soluções específicas.
A cadeira deverá:
- Ser constituída por cinco rodas;
- Ajustável em altura;
- Um espaldar com cerca de 50 cm com apoio lombar ajustável;
- Um assento com extremidades curvas;
- Dispositivo que permita uma inclinação até 15º;
- Descanso dos braços, não muito longos de forma a não colidir com a secretária;
A melhor posição e postura de sentado é:
- A altura do assento deverá estar posicionada de modo a que os joelhos façam um ângulo igual ou ligeiramente superior a 90º;
- Os pés deverão estar assentes no pavimento na posição de paralelos;
- As costas devem estar apoiadas incluindo a parte lombar;
- Os braços apoiados nos descansos dos braços ou sobre a secretária;
Descanso dos pés
O descanso dos pés é particularmente relevante para os trabalhadores que utilizam o computador todo o dia.
Devem ter a possibilidade de ser reguláveis em altura até 15 cm, com a possibilidade de inclinação até 20º. As suas dimensões deverão ser cerca de 30×40 cm.
Porque melhoram a postura ao estar sentado, devem ser posicionados e ajustado por forma a criar uma posição relaxante e confortável.
Secretária
A situação óptima de um posto de trabalho administrativo consiste em ter uma secretária para utilização do computador e outra para executar tarefas de escrita, arquivo, etc. ou uma única secretária com as dimensões que permitam o desempenho das tarefas inerentes à actividade administrativa com utilização de computadores tais como teclado, visor, telefone, pastas ,etc.
Para além desta questão da dimensão o tampo deve reflectir o mínimo de luminosidade.
A título de referência recomenda-se que o tampo tenha no mínimo 160 cm de largura, e a profundidade de 90 cm.
A situação ideal em termos de altura é a de que a secretária seja regulável mas não o sendo deverá situar-se entre 70 e 80 cm.
Teclado
Em linha com a Portaria 989/93 de 6 de Outubro, o teclado deve ser de inclinação regulável, independente do visor e deixar um espaço livre à sua frente de modo a permitir ao utilizador apoiar as mãos e os braços.
Este não deve criar reflexos e portanto deverá ter uma superfície baça e os símbolos, letras e números das teclas deverão apresentar contrates de forma a facilitar a sua utilização.
Os teclados deverão apresentar uma dimensão tal que facilite a sua utilização tendo sempre em atenção de que os movimentos do utilizador devem ser caracterizados pelo menor esforço.
A sua colocação no tampo da secretária deve ser em frente ao visor e não deverá situar-se a uma altura superior aos cotovelos. Para as tarefas com uso intensivo de computador é recomendável a utilização do descanso para os punhos que deve ser colocado de forma a permitir uma posição de relaxe para os pulsos na posição anatómica conhecida como “posição zero”.
Visor
O posicionamento incorrecto do visor (altura, inclinação, posição relativa à luz) é a principal causa de problemas com tensões no pescoço.
A altura da parte superior do visor está dependente da distância dos olhos do utilizador ao pavimento. O utilizador sentado numa posição relaxante isto é na sua posição natural, os seus olhos devem estar à mesma altura que a parte superior do visor.
A distância entre os olhos e o visor deverá ser aproximadamente o comprimento do braço.
Pretende-se assim com este posicionamento conseguir que o utilizador “varra” o visor com os olhos sem que para tal tenha que se recorrer ao movimento do pescoço. O ajuste fino individual definirá a distância e posicionamento mais apropriado à pessoa.
De acordo com a legislação nacional o visor deverá possibilitar a regulação da iluminância e do contraste entre os caracteres e o seu fundo, ter a possibilidade de ser regulável e inclinável adaptando-se assim às necessidades do utilizador. Possuir caracteres bem definidos, de dimensão apropriada e possuir uma imagem estável, sem fenómenos de cintilação ou outras instabilidades.
Posicionamento do posto de trabalho
O posicionamento relativo do posto de trabalho em relação à fonte de luz é um factor muito importante e como tal há algumas regras básicas que devem ser consideradas:
- Postos de trabalho nas proximidades de janelas deve ter-se em atenção a incidência da luz natural e ao controlo do excesso de luminosidade através de estores ou outros meios;
- A posição ideal para colocação do visor em relação às janelas é na perpendicularidade em relação a estas isto é, o feixe de visão em paralelo com as mesmas;
- Quando a iluminação é complementada com luz artificial, através de armaduras de lâmpadas fluorescentes, estas deverão estar na perpendicularidade em relação ao visor e posicionadas entre os mesmos afim de evitar encandeamento salvo se for iluminação indirecta e nesta situação, os postos de luz devem estar nas proximidades dos posto de trabalho ou mesmo por cima deste;
- O visor nunca deverá apresentar reflexos e para tal, caso seja necessário deve ser colocado um filtro afim de reduzir reflexos e brilhos.
Postura
É de facto um desafio conseguir uma posição confortável para a mão, braço e corpo para os utilizadores intensivos de computadores por isso aqui deixam-se algumas sugestões:
- Ter atenção em não manter os dedos da mão tensos pelo que periodica e regularmente exercite-os, isto é, faça movimentos diferenciados daqueles que faz quando está a utilizar o teclado;
- Mantenha os seus cotovelos numa posição relaxantes próximo ao corpo. Descanse os cotovelos no descanso dos braços da sua cadeira com os punhos na posição direita;
- Na eventualidade da cadeira não possuir apoio lombar, enrole uma toalha mantendo a nesta posição com um elástico.
Medidas preventivas
Para além da qualidade dos equipamentos, mobiliário adequado ás funções e postos de trabalho organizados é fundamental, com atrás foi referido, a elaboração de um programa de sensibilização e formação de forma continuada para que os colaboradores das empresas adquiram conhecimento desta temática e desenvolvam atitudes/actos preventivos.
A chamada ginástica laboral é uma das ferramentas que pode ser utilizada por todos. O apoio ou consulta a um fisioterapeuta ocupacional poderá indicar a ginástica que melhor se adapta ao seu posto de trabalho, de qualquer forma sugere-se que sejam feitas pausas regularmente. A prática de alguns exercícios de básicos de ginástica laboral conduzem a benefícios para a saúde, dentro dos quais se destacam:
- Estimulação da circulação,
- Alívio das cargas estáticas dos músculos;
- Redução da tensão no corpo;
- Redução da sensação de cansaço;
- Redução do stress.
Os tipos de exercícios a efectuar prendem-se com:
- Exercícios de alongamento (pescoço, ombro, punho)
- Exercícios de aquecimento (músculos do pescoço, ombro, antebraço, punho e dedos)
- Exercícios da vista (focar objectos distantes, rodar os olhos, olhar para cima e baixo)
Conclusão
O ambiente de trabalho tem um impacto relevante não só na produtividade na execução das tarefas como também na saúde dos executantes.
Em forma de encerramento deste artigo deixam-se algumas recomendações que consideramos úteis para melhorar em termos ergonómicos o seu posto ou local de trabalho:
- Verifique o seu posto de trabalho no que concerne a: cadeira, secretária e visor ajustando as suas posições;
- Verifique os “settings” do seu visor, afinando o contraste e cores;
- Verifique o posicionamento do seu visor relativo à incidência da luz evitando reflexos ou encandeamentos;
- Auto avalie as suas posturas;
- Verifique o seu plano de trabalho e considere pausas de hora a hora com vista a fazer pequenos exercícios relaxantes.
Tenha sempre presente que a prevenção é o melhor princípio a seguir e como tal desenvolva uma cultura de auto critica quanto às condições ergonómicas do seu posto de trabalho e nomeadamente as suas posturas.
AJA